terça-feira, 30 de março de 2010

"À liberdade sempre foi forte e está mais ativo do que nunca:jornalista Alberto Dines"



Censura ao ''Estado'' é discutida em seminário


O conferencista seguinte foi o jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa. Também se valendo de uma retrospectiva, Dines narrou dez "punições" que sofreu nos seus 58 anos de jornalismo - da não publicação de artigos a prisões - para mostrar como o cerceamento à liberdade sempre foi forte e está mais ativo do que nunca.

"A palavra censura não está em desuso na América Latina", declarou. "O censor fardado foi substituído e multiplicado pelo censor civil, togado, de batina ou de fatiota de executivo." Sobre o Estado, Dines afirmou que "em plena democracia, alguns magistrados e tribunais assumiram-se como intocáveis, cidadãos acima de qualquer suspeita.


O presidente Lula entregou nesta segunda (29) a Ordem do Mérito das Comunicações Jornalista Roberto Marinho aos jornalistas Alberto Dines e, postumamente, a Octavio Frias de Oliveira, representado pela filha, Maria Cristina Frias. A comenda é entregue há 26 anos a personalidades que do setor de comunicação por relevantes serviços prestados ao país.
Dines é pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade de Campinas; Frias era publisher do jornal ‘Folha de S.Paulo’. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)


"A imprensa aloprou"

Por Alberto Dines em 1/12/2009

A Folha de S.Paulo consegue se superar a cada nova edição. Mais surpreendente do que a publicação do abjeto texto de Cesar Benjamin (sexta, 27/11), sobre o comportamento sexual do líder metalúrgico Lula da Silva quando esteve preso em 1979, foi a completa evaporação do assunto a partir do domingo (29), exceto na seção de cartas dos leitores.

Num dia o jornal chafurda na lama, dois dias depois se apresenta perante os leitores de roupa limpa e cara lavada, como se nada tivesse acontecido. E pronto para outra.

Não vai pedir desculpas? Não pretende submeter-se ao escrutínio da sociedade? Não se anima a fazer um debate em seu auditório e depois publicá-lo como faz habitualmente? E onde se meteram os procedimentos auto-reguladores que as empresas de mídia prometem há tanto tempo quando se apresentam como arautos da ética? Não seria esta uma oportunidade para ensaiar algo como a britânica Press Complaints Comission (Comissão de Queixas contra a Imprensa)?

E por que se cala a Associação Nacional de Jornais? Este não é um episódio que põe em risco a credibilidade da instituição jornalística brasileira? Um vexame destas proporções não poderia servir de pretexto para retaliações futuras? Ficou claro que depois do protesto inicial ("Isto é uma loucura!"), o presidente Lula encerrará magnanimamente o episódio. A Folha, em compensação, enfiará o rabo entre as pernas.

Ninguém estrila

É bom não perder de vista o fato de que esta lambança de um jornal isolado será fatalmente estendida à mídia como instituição. E logo alimentará as inevitáveis desavenças da próxima campanha eleitoral. Isto não interessa aos que desejam preservar o resto de republicanismo desta imensa republiqueta nem àqueles que levam o jornalismo a sério e não querem vê-lo desacreditado, como acontece na Venezuela.

A verdade é que a imprensa brasileira aloprou, levou a sério sua proximidade com o show-business; a obsessão pelo espetáculo e pela "leveza" levou-a para o âmbito da ligeireza, vizinha da irresponsabilidade.

Por outro lado, o controle centralizado das redações associado ao terror de iminentes demissões em massa desestimula qualquer cautela e a mínima prudência. Ninguém estrila ou esperneia. Os jornalistas brasileiros, apesar de tão jovens, andam encurvados – de tanto dar de ombros e não importar-se.

Ano penoso

Há exceções, tênues, percebidas apenas pelos especialistas, porque nossa mídia – ao contrário do que acontece nos EUA e Europa – faz questão de apresentar-se indiferenciada, uniformizada, monolítica, sem nuances.

Este 2009 foi um ano penoso para a Folha, o jornal talvez prefira esquecê-lo. Mas seus parceiros de corporação deveriam refletir sobre o perigo de atrelar uma indústria ou instituição aos faniquitos juvenis de quem ainda não conseguiu assimilar os compromissos públicos de uma empresa privada de comunicação.

***
Em tempo: O recuo da Folha na edição de terça-feira (1/12) é ainda mais vergonhoso do que a denúncia da sexta-feira anterior. Colocar na boca do pivô do episódio que "o artigo de Benjamim é um horror" é uma manobra capciosa, covarde, para responsabilizar um articulista delirante e inocentar diretores irresponsáveis. A Nota da Redação, na seção de cartas, está atrasada quatro dias: pode satisfazer as dezenas de missivistas que se manifestaram, mas despreza os milhares que, horrorizados, leram o resto do jornal.

Leia também - Lixo em estado puro – A.D.

às Terça-feira, Dezembro 01, 2009

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