sexta-feira, 2 de outubro de 2009

" Daseinsanalyse "



Heidegger, Caminhos de Floresta


E se o ser, no seu estar-a-ser, faz uso do estar a ser do homem? E se o estar-a-ser do homem assenta no pensar da verdade do ser?
Então, o pensar tem de poetar no enigma do ser. Traz a madrugada do pensado à proximidade do que há que pensar.



"História da Daseinsanalyse"


Como a Daseinsanalyse entrou na psiquiatria
O termo “Daseinsanalyse” foi traduzido por “Analyse Existentielle” em francês e “Existencial Analysis” em inglês. Estas denominações, entretanto, passaram logo a abranger divergentes concepções da existência humana e métodos terapêuticos e com isso perderam quase todo o significado. Tentando recuperá-lo, passou-se a manter o termo alemão Daseinsanalyse mesmo em língua estrangeira.

As designações de "Análise do Dasein" e “Dasein Analyses” apareceram pela primeira vez na obra de Heidegger - Ser e Tempo – em 1927. Esses dois termos tinham como objetivo denominar a explicitação filosófica dos “existenciais”, isto é, das características ontológicas constituintes do existir humano. Heidegger descreveu como “existenciais” a abertura original ao mundo, a temporalidade do homem, sua espacialidade original, sua afinação ou estado de humor, seu estar-com-o-outro, sua corporeidade, palavra criada para traduzir o alemão Leibhaftigkeit, designando a essência específica do corpo do homem vivo (Leib) oposta àquela de um corpo físico (Körper) e seu caráter de ser mortal. A análise desses “existenciais” foi chamada de Daseinsanalytik.

O intuito principal de Heidegger foi esclarecer o sentido do Ser enquanto tal. As explicitações do existir humano que aparecem em Ser e Tempo devem ser consideradas como uma primeira etapa no caminho de seu pensamento. Não foi sua intenção fazer uma antropologia.

Ludwig Binswanger percebeu a importância da concepção heideggeriana da essência do existir humano para a Psiquiatria. A conselho do psiquiatra suíço Jakob Wirsch, Binswanger utilizou o conceito de Daseinsanalyse, que era originalmente de ordem puramente filosófica e ontológica, num sentido completamente diferente, ôntico.

Em 1941 Binswanger considerou que uma “Daseinsanalyse Psiquiátrica” traria um novo método de investigação para compreender e descrever, sob um ângulo fenomenológico, as síndromes e os sintomas concretos, distintos e diretamente perceptíveis da psicopatologia, afastando-se do método científico que até então prevalecia na Psiquiatria e na Psicanálise.

Seguindo o pensamento de Heidegger, Binswanger dedicou-se a um caminho fenomenológico: julgando não haver nada a procurar atrás dos fenômenos, quis esclarecer, de modo mais diferenciado, os significados e as relações que se mostravam imediatamente a partir deles mesmos.

Já antes de conhecer o pensamento “daseinsanalítico”, Binswanger havia percebido os limites da aplicação do método das ciências naturais na Psiquiatria. Os trabalhos do psiquiatra parisiense Eugene Minkowski, influenciado por Bergson, tinham despertado sua atenção. Binswanger mostrou que o pensamento das ciências naturais era insuficiente para estudar o comportamento humano, pois deixava de lado o caráter específico da existência, provocando danos no domínio da psiquiatria. Apoiou-se, então, na “desconstrução” proposta por Heidegger da idéia cartesiana que divide o mundo em res–cogitans e res-extensa.

Binswanger considerava que a divisão cartesiana do mundo em sujeito e objeto era prejudicial para a Psiquiatria, constituindo mesmo um verdadeiro câncer da ciência. Segundo ele, a concepção de uma res-cogitans existindo primordialmente em si, não consegue explicitar como o espírito humano pode se dar conta da existência do mundo exterior, como esse espírito pode sair dele mesmo e descobrir o que compõe esse mundo e atingi-lo.

Binswanger fez uma descrição daseinsanalítica de numerosos casos de esquizofrenia. Afastou-se, entretanto, do pensamento de Heidegger num ponto capital, isto é, achou necessário acrescentar o conceito de “amor” ao conceito heideggeriano de “zelar”. (N.T.- Do alemão “sorge” que significa: cuidar, zelar, preocupar-se, etc...). Não percebeu que nesse termo “zelar”, empregado por Heidegger num sentido ontológico, já estavam incluídas todas as formas de relações afetivas, portanto também o amor.

Quando reconheceu o próprio engano, deixou de qualificar suas pesquisas como “daseinsanalíticas” e chamou sua nova orientação de pesquisa de “fenomenologia antropológica”. Em seguida voltou a se aproximar mais do pensamento de Husserl, o mestre de Heidegger.

O psiquiatra e psicoterapeuta suíço Medard Boss, descontente também com os fundamentos da Psiquiatria tradicional e estimulado pelos trabalhos de Binswanger, voltou-se para o pensamento de Heidegger, motivado sobretudo por preocupações de ordem terapêutica.


http://www.daseinsanalyse.org/

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