quarta-feira, 18 de março de 2009

"Grifo para M."


A Martha Ary,

Ela era magérrima, os pêlos sempre a sair pelo corpo, como um labirinto tecido ao longo dos dias.Mas de uma polidez encantadora, capaz de ler o Murilo Mendes disfarçando o desconforto.
Os cabelos voltaram a escurecer depois de uma pródiga tarde banhada em cremes e tinturas múltiplas.
Olhar arguto, sempre atenta ao detalhes de platibandas, varandas ainda em cor e grafitos em antigos sobrados. Voz grave, capaz de decepar anseios e rir dos retratos de Castro. Confessou que dormia ouvindo Chet Baker na vitrola
- Minha cara, ainda fugiremos para Sabiaguaba onde encontraremos haxixe e brincaremos de esconder com os albanitos.
Adorava ver o Sol devorando o Pirambu, enquanto escondia os adereços de moça-árabe.
Era séria aspirante a ser a arquiteta da cidade. Em meio aos anos de chumbo resolveu esconder-se na discreta repartiçao, mas guardaria para sempre uma utopia tímida.
De uma simplicidade comovedora, de carnavais
no Líbano, de irmãs à janela sempre a espera. O novo ofício nao foi capaz de matar os desejos, de ser arrebatada novamente pelo amor. Aquele, que levou consigo um pouco de si mesma

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