segunda-feira, 16 de março de 2009

" A Fortaleza dos outros "




Definitivamente esta cidade é refém dos novos-ricos, das grandes construtoras e
do turismo predatório do lumpen europeu. Quem nasceu e foi educado aqui hoje
já não se reconhece na cidade. Os espaços públicos reduziram-se a calçadas tomadas
por cadeiras, automóveis ainda em brilho e pelo ensurdecedor forró eletrônico.
O centro ainda espera o tal projeto de revitalização, mas apesar disto parece ser reeinventado no burburinho de suas micro-galerias e por ambulantes que parecem mais criativos que os gestores públicos.
A enorme nostalgia da classe-média que tenta ser moderna consumindo
produtos e serviços que lembram o Itaim ainda não percebeu que as ruas ainda estão habitadas pelos catadores de papéis e que suas empregadas domésticas tomam duas
conduções antes de chegaram até a Barão de Studart e adjacências. Carteira assinada é sinônimo de desobediência civil. Os novos ricos apostam que a grande saída está em recriar novos espaços em condomínios fechados, high-tech, em regiões onde há pouco habitavam famílias simples, que traziam consigo o sacrilégio de serem pobres e morarem próximas ao mar.
Uma cidade apartada. Um muro de Berlim na Dom Manuel, separando o arcaico
do moderno. Talvez uma ótima idéia seria a venda definitiva do São Luiz e do Zé de Alencar para a Universal, pois a fé precisa de espaços mais nobres. Recriar o Beco da poeira no Zé Walter e doar o IJF para o Monte Klinikun, com a condição a priori de não aceitar convênio de saúde da Unimed. As boas casas avarandadas desde a Dom Manuel até a Barão de Studart poderiam se transformar em casas funcionais dos empregados da SJ. Enfim algum neo-marrano poderia se entricheirar com a patuléia no Dragão do Mar e evocar as almas do Padre Hélio Campos e do Padre Joatham para reafirmar que o roubo é uma propriedade, para desgosto de Proudhon. Seria fatalmente queimado vivo , em um auto-de-fé, onde as súplicas bom fransciscano Aloísio não seriam capazes de impedir que suas cinzas fossem espalhadas em torno do Baobá, para deleite da jeunesse-dorée em ecstasy do Mucuripe e do Marinas .

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