sexta-feira, 30 de abril de 2010

"Rosa e Buriti"


Débora Bloch (Maria da Glória) e Sura Berditchevsky (Maria Behú) 1984


"DISCURSO DE BURITI"



O eixo sobre o qual gira a argumentação desenvolvida é o
conto “Buriti”, do livro Noites do sertão, de
Guimarães Rosa. Este autor, lançando mão dos princípios
de corte e montagem da sintaxe cinematográfica como
recursos literários, dota a linguagem de intenso poder de
visualização e de plasticidade como se estivesse buscando
filmar com palavras.


O jogo da sedução e da coqueteria se monta, na passagem
que mostra os encontros noturnos de Lalinha e Iô Liodoro, a
partir de estratégias de linguagem que se aproximam do uso
de close-ups, em linguagem cinematográfica. O leitor tanto
quanto Iô Liodoro tornam-se privilegiados voyeurs, atentos
aos detalhes do corpo de Lalinha que ela mesma põe em
exibição em partes, sugerindo a apreciação e o avançar
no jogo:

– “O senhor acha? __ Gosta?” – sorriu queria ser
flor, toda coqueteria sinuasse em sua voz: – “De
cara?... Ou de corpo?...” – completou; sorria meiga.

– “Tudo!” E com a própria ênfase ele se dera
coragem. Mas ela, sábia, alongava a meada:

– “A boca...?” – perguntou.

– A boca... Todos os dentes bons, tão brancos, tão
brilhando...

Sua admiração se dizia como a de uma criança. Lalinha
descerrara o sorriso, exibia aqueles dentes, a pontinha da
língua.

Riram juntos. E ele mesmo acrescentou:

– Os olhos...

– “E o corpo, o senhor gosta? A cintura? – ela
requestou.

Sim, a cintura, o busto, os seios, as mãos, os pés...
Devagar, a manso, falavam de tudo nela, os olhos e as
palavras quentemente a percorriam (ROSA, 1979: 216).


http://www.filologia.org.br/linguagememrevista/02/03.htm

"AS IDÉIAS CINEMATOGRÁFICAS NO DISCURSO DE BURITI"
Maria Luiza de Castro da Silva
(UNIPLI e UNESA)

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