terça-feira, 27 de outubro de 2009

"Reflexão sobre o Amor e Mercadoria"



"Baudelaire: antíteses e revolução"

Olgária Matos

“Desaparecimento dos vestígios do pecado original”, a modernidade
não é desencantamento psíquico e da cultura, mas o tempo
que nela reina soberano: o tédio. Em “O Quarto Duplo”, Baudelaire
destitui o sujeito de suas prerrogativas clássicas de autor do
sentido do mundo, quando a consciência garantia voz de comando
sobre toda Natureza e sobre os homens. Personalizando o Tempo,
ao grafá-lo em maiúscula, o poeta desfaz a harmonia interior,
a intimidade do quarto, os objetos tornados parciais e autônomos
com respeito uns aos outros, replicando o que se passa com o próprio
Eu que perde permanência, constância e identidade. Assim,
cabe ao Sujeito exercer os “cuidados de si”, abjurando a tutela da
religião e da ciência, renunciando à ambição de realizar uma “verdade
do Eu”: “O homem moderno, para Baudelaire, não é alguém
que vai em busca de si mesmo, de seus segredos e de sua esquiva
verdade; é alguém que procura inventar-se a si mesmo. Esta modernidade
não libera ‘o homem em seu próprio ser’, mas o constrange
a enfrentar a tarefa de se produzir a si mesmo.”* Na modernidade,
produzir-se a si mesmo significa movimentar-se em meio
a um mundo em huis clos – o tempo espacializado dos cronômetros
e relógios. Associado ao recinto fechado do quarto, o tédio
é a intrusão violenta – em um refúgio que deveria ser acolhedor,
tranqüilizante e protetor – do “princípio de realidade” moderno:
a universalização fetichista do dinheiro que domina todas as esferas
da vida e o espírito protocolar e burocrático que o acompanha.
Por isso, a “infame concubina”, o “meirinho”, o “oficial do cartório”
são sua perfeita tradução.

www.scielo.br/pdf/alea/v9n1/a07v9n1.pdf

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