quarta-feira, 15 de julho de 2009

"Epitáfio para um Infante Defunto "


"Depois da cinematográfica queda do comandante disseram-me que nada o aborrecia mais do que as croniquetas semanais do Infante Defunto no diário “El País”. Feito um genial Voltaire mestiço, aliado aos maricones Virgílio Piñera e Lezama Lima eles reinventaram a Literatura cubana e a tornaram Universal. Ousaram lançar ao mar da minúscula ilha a linda “Orígenes”, com direito a traduções do Proust. A escrita do Infante, permeada de um delicado humor e de jogos verbais foi capaz de desafiar os fuzis soviéticos de segunda mão contrabandeados pelo comandante. Holly Smoke, quem diria. Nos precoces anos da Gloriosa Revolução cubana, Piñera em seu esquálido corpo em pele-e-ossos afirmou em alto e bom som que tinha um estranho medo, um ligeiro pressentimento. Foi imolado vivo, devido ao discreto “A Carne de Renée.” O Infante Defunto, olhos miúdos ao relento, munido de um quase-septuagenário cavanhaque levou o prêmio Cervantes para casa, para desgosto dos esquerdistas d´além mar. Enquanto o Garcia Márquez fazia mesuras ao comandante e apostava em um Realismo Fantástico que encantava os editores da Feira de Frankfurt, o Infante Defunto redescobria joycianamente a Havana vieja em seus cines, malecons, negros estivadores, falcões malteses, lilians helmanns e travestis americanos. No final dos cinqüenta os rapazes Barbados desceram a Sierra Maestra e humilharam o pequeno comerciante de especiarias na pequenina Gibara, bem próximo o Infante estava mergulhado em “Moby-Dick”. O encanto foi perdido depois que o Marciano Lopes o encontrou para um ligeiro até breve na Galeria Lafayette para trocarem memórias e carteles . Depois de uma saudação cordial, o Infante partiu desta para melhor, para alegria do comandante e de seus diletos discípulos. Dirigindo-se ao Lopes, antes de ser arrebatado aos céus por onze mil virgens, sentenciou:
- Lana Turner desabou sobre todos nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário