quinta-feira, 15 de abril de 2010

"LOST ZWEIG "


"LOST ZWEIG E O CINEMA MAIOR DE SYLVIO BACK"

por Claudette Grazziotin - clau.graz@terra.com.br

Assisti Lost Zweig! Estreava no Guion Center, Nova Olaria, aqui em Porto Alegre. Confesso, é um filme excelente, comovente, inteligente. Incontestável. Com uma beleza plástica e narrativa forte, provocativa. Um filme sobre a vida de Stefan Zweig, um dos escritores europeus mais importantes da primeira metade do século XX, que revela a modernidade , a contemporaneidade de Zweig, medida pela sua incoercível vocação libertária, condenando todo e qualquer regime autoritário, qualquer Estado que interferisse na criação do artista e na ampla e irrestrita circulação de suas obras.

"Stefan Zweig jamais deixou de sonhar com uma Europa sem passaporte, com moeda única, onde se podesse viajar sem barreiras, respeitando a cultura e a língua de cada país. Como todos os poetas, e fazia questão desta condição, era um visionário. Suas idéias e seu imaginário resistem ao tempo e terminam por serem confrontados com a história. A posteridade acabou premiando sua premonição", segundo Back. É uma obra de uma poesia e agudeza perceptiva incrível. Ronda o perfeccionismo o tempo todo. A mensagem é questionadora, corajosa, direto na veia! Os diálogos, a força da narrativa... Saí do cinema, sentindo-me orgulhosa de saber que nesse nosso"pobre rico país" existem pessoas especiais que ousam desafiar a manipulação, o engodo, a dissimulação com a dignidade e integridade de sua verdade sem mascarar, deturpar ou aviltar nossa realidade fazendo-nos pensar seriamente sobre a inevitável condição de eterno exilado, degredado, de quem ousa enfrentar e contestar a" verdade vigente".

Corajosamente, se contrapõe ao cinema de mídia fácil e ideologizado a que estamos submetidos e acostumados, o excepcional, polêmico, instigante e inteligentíssimo diretor Sylvio Back que, não recebe da mídia o destaque merecido aos seus 64 prêmios nacionais e internacionais e recentes prêmios nos Festivais de Brasília, Cuiabá, Fortaleza, como melhor filme ,melhor roteiro, melhor direção, melhor fotografia, trilha sonora, e por aí vai.

Cinema Vital dentro do contexto de nossa cinematografia. Diferenciado, contrapondo-se ao apelo fácil da mídia e da ideologia mal intencionada. Saí de lá pensando que, é preciso ser muito forte, ter peito para realizar filmes sensíveis, lúcidos, desafiadores como Lost Zweig e outros que Back já ousou. Deus faça que, ele seja visto, reconhecido e aplaudido como realmente merece. Vejo que outros filmes nacionais de nível muito inferior, que nem podem ser comparados em qualidade técnica e conteúdo, conseguem patamares altíssimos de bilheteria, uma lástima! Infelizmente vivemos num país onde cultura é artigo supérfluo.
Foi o que pedi, lá, no escuro daquela sala de projeção: Tanta qualidade não pode passar batida, tem que emplacar!
A cena que mais me emocionou foi o jogo de xadrez das sombras. Impressionante o impacto que senti e a profusão de sentimentos, pensamentos, entendimentos, conclusões que num flash se apresentaram para mim.

Lost Zweig, de Sylvio Back é um filme que todo formador de opinião deve ver, no meu entender, porque é um filme maior, original, profundo, esclarecedor, interrogativo, demonstrando um grande respeito pelo espectador, desafiando, incitando sua inteligência e percepção para um olhar mais isento e lúcido sobre o insondável drama da condição humana.
“É um filme para adultos, que resgata a trajetória de um conceituado pensador que encontrou no Brasil tanto refúgio como tormento”,como nos revela o próprio cineasta em uma de suas entrevistas sobre o filme.

Grande Sylvio Back, obrigada por nutrir minha sensibilidade e meu entendimento, obrigada por Lost Zweig, pela tua rara maestria, pela tua ar

Bravo!

Claudette Grazziotin

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