quarta-feira, 24 de março de 2010

João Guimarães Rosa, na novela "Buriti" :"Noites do Sertão "


"Noites do Sertão" : Cristina Aché (lindíssima),Déborah Bloch, 1984 .

Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de setembro de 1985
O mineiro Carlos Alberto Prates Correia é um cineasta que tem sido muito bem sucedido em termos de aceitação crítica de seus filmes. Em 1975, seu segundo longa-metragem (o primeiro, "Criolo Doido", de 71, poucos viram), "Perdida", ganhou o Coruja de Ouro como melhor filme e mereceu ainda o troféu de melhor trilha sonora para Tavinho Moura. "Cabaret Mineiro", levado ao Festival de Gramado em 1981, arrebatou os principais prêmios: filme, direção, ator, atriz coadjuvante, fotografia, montagem e mais um Kikito para Tavinho Moura - pela trilha sonora. Em Brasília, no mesmo ano, ganhou os prêmios de fotografia e música.

Há dois anos, novamente em Gramado, "Noites do Sertão" também entusiasmou o público, crítica e jurados: prêmio de melhor atriz (Déborah Bloch), atriz coadjuvante (Maria Silvia), fotografia (Tadeu Ribeiro), trilha sonora (Tavinho Moura), música original (Tavinho), montagem (Idê Lacreta/Amauri Alves), som (Romeu Quinto), figurino e cenografia (Anísio Medeiros), além de um Prêmio Especial de Qualidade Técnica e Artística. Levado ao festival de Caratagena, valeu a Déborah Bloch o prêmio de melhor atriz e a Tadeu Ribeiro novo troféu pela fotografia.

Apesar de todas estas (merecidas) premiações, a carreira comercial de "Noites do Sertão" não tem sido fácil. O que é pena, pois estamos diante da melhor adaptação já feita ao cinema de um texto de Guimarães Rosa. Partindo do conto "Buriti", Prates fez um filme com imensa beleza, analisando os sentimentos de personagens de uma grande riqueza interna numa estória ambientada no Interior de Minas Gerais . Geraldo Mayrink, na revista "Filme & Cultura", falou com entusiasmo: "Há um novo sertão no cinema brasileiro. Sem retirantes místicos nem líderes messiânicos, sem latifundiários exploradores nem macacos da polícia mantendo a velha ordem a pau e fogo, é um sertão com data - anos 50 - e endereço conhecido - o Norte de Minas, conforme consta na certidão de nascimento expedida pelo seu criador, João Guimarães Rosa, na novela "Buriti". Saindo de trem, de Belo Horizonte, chega-se até lá". Carlos Alberto Prates Correia fez a viagem e introduziu no sertão brasileiro uma nova dimensão: o mistério"(...) Neste filme de tensões sutis, de acabamento soberbo e de uma clareza poética que só tem eco no cinema brasileiro recente como "Inocência", de Walter Lima Jr., a natureza é soberana. Sol, lua, vegetação, bichos noturnos, riachos são mais que moldura para personagens problemáticos e despidos de qualquer ligação com o "real" imediato. Neste sentido, a história da amizade que se conta entre Lalinha e Glória é exemplar. Também aqui os sonhos e os desejos de cada um se expressam por palavras e gestos".

Um elenco excelente: Déborah Bloch, Cristina Aché (lindíssima), Tony Ramos, Carlos Kroeber, Carlos Wilson, Sura Berditchevsky, Maria Silvia, Maria Alves e, em participação especial, Milton Nascimento.

Um belo filme que merece ser visto.

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