sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

" Mouros, Franceses e Judeus - Três Presenças no Brasil"


Luís da Câmara Cascudo (30/12/1898-30/7/1986)

Mouros, Franceses e Judeus - Três Presenças no Brasil


Mouros e Judeus – Depto. de Cultura, Recife, 1978

Em Mouros, Franceses e Judeus, Luís da Câmara Cascudo estuda a presença destes três povos na cultura popular brasileira. Presenças persistentes através de crendices, histórias, gestos, hábitos alimentares, cujas origens se perdem na escura noite dos tempos, alguns chegados aqui quando o Brasil apenas despertava para a vida. Constantes culturais de dois, três mil anos, velhas de quinhentos anos no país e que continuam, límpidas e frescas, na vida cotidiana do povo brasileiro.
Depois de séculos de presença na Península Ibérica, deixando marcas indeléveis na vida portuguesa, o mouro viajou para o Brasil na memória do colonizador, como observa Cascudo. Ninguém fala português sem empregar centenas de palavras de origem árabe: açúcar, arroz, azeitona. As mães d'água, de canto irresistível, são parentes das mouras encantadas. A presença árabe está em toda parte, na arquitetura, na doçaria, no pé do nordestino. A alparcata, tão popular no Nordeste, muitas vezes milenar, foi introduzida em Portugal pelo berbere.
Presente no Brasil desde as primeiras expedições de reconhecimento da terra, o judeu deixou marcas de sua cultura em lendas, cerimônias religiosas, hábitos de comércio. Bem posterior, a influência francesa se tornou avassaladora a partir, sobretudo, dos séculos XVIII e XIX. Ainda hoje, os cantadores nordestinos invocam a figura de Roldão, como um herói imbatível, exemplo de coragem e honradez. "É o único motivo popular inspirado por livro impresso", ensina mestre Cascudo. O livro é a História do Imperador Carlos Magno e dos Doze Pares de França, presente em toda casa de nordestino letrado, de onde se divulgou para o povo fascinado. Roldão e sua espada durindana continuam exaltados, ainda hoje, na literatura de cordel, como se acabassem de sair de um combate. Como dizia Sainte Beuve, a antiguidade é coisa nova.

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