sábado, 21 de novembro de 2009

"Hitler e Wagner"


Wilhelm Richard Wagner ; 22 May 1813 – 13 February 1883

Por Arthur Torelly Franco
torelly@polors.com.br

"A música indesejada"
“A música é um território demoníaco”. -Thomas Mann-

Atendendo a ovação da platéia e a inúmeros pedidos de “bis”, o maestro Daniel Barenboim ergueu a batuta e ao seu comando a Staatskapelle, orquestra da Ópera de Berlim, começou a executar o famoso Prelúdio do primeiro ato de Tristão e Isolda. O concerto estava acontecendo em Tel Aviv e ao soarem os primeiros acordes, o público se retirou do teatro em meio a algumas vaias e apupos. No dia seguinte, o Jerusalem Post estampou a seguinte declaração de Avi Shoshami, Secretário Geral da Orquestra Sinfônica de Israel: “Enquanto houver um só sobrevivente do Holocausto que se oponha à interpretação da música de Wagner, continuaremos respeitando-o e, portanto não a executaremos”.

Incidentes semelhantes ocorreram nas décadas de 80 e 90, quando os maestros Mandi Rodan, também um sobrevivente dos campos de concentração, e Zubin Mehta tentaram apresentar a música de Wagner nos palcos de Israel.

Na ocasião, Gideon Hausner, presidente do conselho do Yad Vashem (Memorial do Holocausto), qualificou Wagner de repugnante por seu anti-semitismo e por ter sido o inspirador de Hitler. Se a música do compositor não reflete a ideologia nazista e anti-semita e sua morte ocorreu 40 anos antes do surgimento de Hitler como líder político, por que esta aversão do público judeu à obra do músico alemão?

Para melhor entendermos a delicada polêmica, é imperioso analisar a influência de Richard Wagner sobre Adolf Hitler.

Quanto à genialidade do músico e sua obra, ninguém discute. Já o cidadão Richard Wilhelm Wagner era egoísta, amoral, narcisista e esbanjador. Acumulou dívidas milionárias nas cidades onde viveu, e fugiu de algumas delas deixando em seu rastro uma multidão de credores. O escritor Charles Osborne declarou que “Wagner era como uma praga bíblica que se abatia sobre os amigos de boa fé que lhe abriam a bolsa”. Anti-semita ferrenho escreveu sob anonimato o livro “Os Judeus e a música”. Essa obra medíocre tinha como alvo principal os compositores judeus, em especial Giacomo Meyerbeer (Jakob Liebmann Beer), que reinava absoluto na Opera de Paris.

Desde a publicação em 1888 de “O Caso Wagner” de Friedrich Nietzche, centenas de livros foram escritos na tentativa de analisar e interpretar a personalidade do músico alemão. A controvérsia não se restringe apenas ao estado de Israel já que o público em geral se encontra polarizado entre os wagnerianos e os antiwagnerianos. Mas é indiscutível que a aura de gênio maléfico que paira até hoje sobre o compositor, começou a ser plasmada a partir do momento em que Hitler se tornou um wagneriano.

O profeta e seu discípulo

Hitler adotou Wagner como seu compositor predileto quando assistiu a ópera Rienzi, em Linz, na Áustria, no ano de 1906. Ao mudar-se para a capital, tornou-se um assíduo freqüentador da Ópera de Viena, oportunidade em que assistiu a todas as obras do músico, sendo que Tristão e Isolda foi assistida por quarenta vezes. No início do século XX a capital da Áustria era um dos grandes centros da Europa onde grassava o anti-semitismo. As idéias e manifestos publicados na revista Ostara começaram a fermentar na cabeça do jovem Hitler, que não obstante valia-se de comerciantes judeus para vender seus quadros. No início da década de 1920, ele já vivia em Munique e ingressara no Partido dos Trabalhadores Alemães, precursor do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Seus discursos soavam como música para os aristocratas, empresários e a classe média. Ele combatia os dois vilões do momento: a ideologia comunista que se propagava pelo país e o caos econômico decorrente da derrota na 1º guerra mundial, agravado pelas imposições draconianas do tratado de Versalhes.

Hitler, apesar de todo seu carisma e oratória, era um homem rude que precisava ser lapidado. Sem obter o apoio das classes dominantes, não haveria o fluxo de fundos necessário para financiar a expansão do movimento e a conseqüente divulgação de sua ideologia. Foi nesse momento que entraram em cena os cérebros do partido (hoje seriam chamados de marqueteiros): o poeta e jornalista Dietrich Eckart, o general de divisão Ritter von Epp e o capitão do exército Ernst Röhm.

Eckart teve para com Hitler a mesma dedicação e esforço pedagógico dedicado pelo professor Higgins à Elisa Doolitle na peça Pigamalião.

Em poucos meses o ex-cabo da Werhmacht vestia-se melhor, dominava os bons modos e a etiqueta, o que lhe permitia circular com desenvoltura e cavalheirismo nos salões da alta sociedade de Munich. Seus magnéticos olhos azuis e sua dialética conquistaram Helene Bechstein, esposa do fabricante de pianos Carl Bechstein. Ela adotou o jovem político como se fora um filho e começou a divulgar a causa nacional socialista. O dinheiro começou a irrigar os cofres do partido e a ideologia nazista começou a crescer em toda Alemanha.

Em uma festa na casa dos Bechstein, Hitler foi apresentado à inglesa Winifred, esposa de Siegfried, filho de Richard e Cosima Wagner.

A partir desse dia a biografia de Hitler se entrelaçou à vida da família Wagner e não há revisionismo histórico que altere os rumos desse relacionamento.

No próximo artigo daremos continuidade ao tema, mostrando como começou a glorificação de Bayreuth e a apoteose de Wagner. Foi a partir desse momento que começou a ser gravada na mente das pessoas a associação Wagner – Bayreuth – Hitler – Nazismo – Terceiro Reich.

Um comentário:

  1. Entendo sua posição. Wagner já havia morrido . Mesmo antes desse imbecil ter saido das fraldas. Nao Vejo o que sua Música pode reavivar.
    Wagner: Leipzig, 22 de maio de 1813 — Veneza, 13 de fevereiro de 1883
    Hitler: Braunau am Inn, 20 de abril de 1889 — Berlim, 30 de abril de 1945
    Os judeus não devem e não podem esquecer o holocausto, mas poderiam aprender a perdoar e contruir uma nação sem vínculo com as guerras e violência, tão presentes na sua História!
    ÒH ! Israel! Até Quando?
    "Quando o poder do amor superar o amor pelo poder o mundo conhecerá a paz." - Jimi Hendrix – (Seattle, 27 de novembro de 1942 – Londres, 18 de setembro de 1970)

    ResponderExcluir