quinta-feira, 30 de abril de 2009

'Macho não ganha flor'



Em 'Macho não ganha flor', reunião de contos, Dalton Trevisan monta, peça a peça, um mosaico de monstros morais. Ladrões, estupradores, sádicos e maníacos desfilam em palavras secas, fortes e certeiras. Dalton é o vampiro, mas é no coração do leitor que a estaca de suas idéias crava fundo. São estocadas curtas e rápidas, que trazem a angústia de seus protagonistas, suas esperanças e sonhos. Muitos deles desfeitos ou prestes a serem desmanchados diante de nossos olhos. É assim em 'Macho não ganha flor', texto que abre e empresta o título ao livro. Nele, uma jovem noiva se vê às voltas com um estuprador e assassino. Um homem violento, que ao tentar impor sua vontade à da moça, se vê traído pelo próprio corpo. E assim nervoso, e cada vez mais violento, lembra das outras mulheres que tomou para si sem cerimônia. Algumas que, inclusive, gostaram da atenção. Quiseram lhe pagar com flores, mas Macho não ganha flor, responde. Ao todo são 22 textos, cada um soturno a sua própria maneira, um passeio irônico e mordaz pelas almas feminina e masculina. 'Macho não ganha flor' lança um olhar objetivo sobre a condição humana, em tudo o que esta tem de oculto e ambíguo. São textos enxutos que retratam a realidade no que ela apresenta de mais bizarro.
O erotismo trágico de Trevisan "Macho não Ganha Flor" mostra o autor, que sexualizou a linguagem, cada vez mais próximo da poesia

Miguel Sanches Neto

Saiu na Imprensa: O Estado de S. Paulo / Data: 5/11/2006

Nenhum comentário:

Postar um comentário