quarta-feira, 25 de março de 2009

"El Flaco y El Gordo" : Virgilio Piñera e Lezama Lima


Gordo (al Flaco) ¡Hmmm! ¡Qué rico huele todo eso! ¡Siga, siga! Ese arroz con pollo va a quedar de rechupete.

Lezama Lima:

Ah, que você escape
Ah, que você escape no instanteem que tenha alcançado sua melhor definição.
Ah, minha amiga, não queira acreditarnas perguntas dessa estrela recém-cortada,que vai molhando suas pontas em outra estrela inimiga.
Ah, se fosse certo que, à hora do banho,quando, em uma mesma água discursiva,se banham a imóvel paisagem e os animais mais finos:antílopes, serpentes de passos breves, de passos evaporados,parecem entre sonhos, sem ânsias levantaros mais extensos cabelos e a água mais recordada.
Ah, minha amiga, se no puro mármore das despedidastivesses deixado a estátua que poderia nos acompanhar,pois o vento, o vento gracioso,se extende como um gato para deixar-se definir.(Trad. Claudio Daniel)

Virgilio Piñera:

"INSÔNIA"
O homem deita-se cedo. Não pode conciliar o sono. Dá voltas, como é de se supor, na cama. Enreda-se entre os lençóis. Acende um cigarro. Lê um pouco. Torna a apagar a luz. Mas não pode dormir. Às três da madrugada levanta-se. Acorda o amigo do lado e confia-lhe que não pode dormir. Pede conselho. O amigo Ihe aconselha a dar um pequeno passeio a fim de cansar-se um pouco. Que em seguida tome uma xícara de chá de cidreira e que apague a luz. Faz tudo isto, mas não consegue dormir. Torna a levantar-se. Desta vez recorre ao médico. Como sempre sucede, o médico fala muito, mas o homem não dorme. Às seis da manhã carrega um revólver e estoura os miolos. O homem está morto, mas não pôde dormir. A insônia é uma coisa muito persistente.

Contos:(de Contos Frios. Tradução de Teresa Cristófani Barreto. São Paulo, Iluminuras, 1989)

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